Saúde mental dos magistrados deve ser prioridade das instituições
Na palestra que abriu o terceiro dia do Enaje, a médica Carolina Gonçalves e a conselheira do CNJ Daiane de Lira pediram atenção especial para a saúde dos juízes brasileiros
A magistratura brasileira é a mais produtiva do mundo e tem assumido responsabilidades cada vez maiores. Uma missão que exige um cuidado específico com a saúde mental, defenderam as palestrantes Carolina Gomes Gonçalves, médica, e Daiane Nogueira de Lira, conselheira do CNJ, na abertura da programação científica do terceiro dia do Enaje.
As palestrantes reafirmaram a urgência de tratar a saúde mental como prioridade. O debate abordou as causas que levam muitos magistrados à exaustão, mas também propôs soluções para enfrentar os desafios da era virtual. Para elas, a mudança depende de apoio institucional.
“Se deixarmos de olhar para os juízes como máquinas, não os resumindo a números, tenho certeza de que daremos um grande salto”, afirmou a conselheira Daiane Nogueira de Lira.
Em sua palestra, a conselheira fez um relato franco e pessoal sobre sua experiência no CNJ, onde coordena o Fórum Nacional do Poder Judiciário para a Saúde (Fonajus). Ela defendeu uma abordagem transversal para a formulação de políticas públicas voltadas à saúde mental.
Daiane Nogueira de Lira refletiu sobre a pressão crescente sobre os juízes, que precisam lidar com questões complexas, muitas vezes sem estrutura adequada, especialmente em regiões mais remotas. Para ela, a sobrecarga não pode ser atribuída apenas ao Judiciário, mas também à ineficiência da administração pública, que resulta na alta judicialização.
“Temos o Judiciário mais produtivo do mundo, mas precisamos de um olhar especial para os juízes. As instituições precisam tratar os magistrados com a mesma atenção dedicada ao jurisdicionado”, destacou a conselheira.
Em sua fala, a médica Carolina Gonçalves apresentou dados que demonstram o impacto do estresse e do isolamento no desempenho dos magistrados. “O cansaço pode levar à parcialidade do juiz”, alertou.
De acordo com a médica, há uma sobrecarga nas varas iniciais, que apresentam maior incidência de problemas de saúde mental. “Esse é um tema urgente, que precisa ser falado”, enfatizou.
Para Carolina Gonçalves, a liderança da AMB e do CNJ é crucial para mudar esse cenário. Ela destacou a importância do trabalho em equipe. “Mudanças de paradigma dependem de mudanças culturais.”
A médica sugeriu a criação de comitês de bem-estar e programas de treinamento nas escolas da magistratura, além de mentorias no início da carreira e iniciativas que reduzam o isolamento entre os juízes.
O debate foi mediado pelo ex-presidente da AMB, Jayme Martins de Oliveira Neto, que pediu atenção dos gestores à saúde dos magistrados. “Esse olhar precisa vir de cima, de quem faz as regras”, concluiu.
Henrique Bolgue (Ascom)