IV Caminhada Negra percorreu mais três capitais do Brasil no fim de semana
Magistrados percorreram ruas de São Luís, São Paulo e Porto Alegre. No próximo sábado, sete cidades vão receber o evento promovido pela AMB
Mais três capitais realizaram a Caminhada Negra com juízes neste fim de semana. A quarta edição do evento, organizado pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), foi realizada no sábado (23) em São Luís, São Paulo e Porto Alegre.
O diretor de Igualdade Racial da AMB e vice-presidente da AMMA, juiz Marco Adriano da Fonseca, participou da caminhada na capital maranhense, que partiu do Museu do TJ-MA com destino à Casa do Tambor, no centro de São Luís. O juiz ressaltou a importância do evento no resgate da identidade do povo negro, que representa mais de 70% da população do estado.
“Tivemos a participação de 40 magistradas e magistrados, além de dependentes e convidados de outras carreiras jurídicas, e percorremos o Centro Histórico da capital maranhense conhecendo as históricas de personalidades negras e suas contribuições culturais, sociais, políticas e literárias para o nosso Estado e para o Brasil, com destaque para Maria Firmina dos Reis, Catarina Mina e Gonçalves Dias, numa verdadeira imersão na realidade racial e histórico-social brasileira a partir de uma perspectiva antirracista".
Em São Paulo, cidade com a maior população negra do Brasil, a caminhada resgatou histórias de personagens negros que foram invisibilizados ao longo dos anos. A atividade, que dispunha de dez vagas, contou com a participação de nove inscritos, sete deles magistrados, e foi conduzida pelo jornalista Guilherme Soares Dias, do Guia Negro.
A coordenadora da Justiça estadual da AMB, Vanessa Mateus, participou do percurso pelas ruas de São Paulo que durou cerca de 2 horas e meia. A juíza organizou a primeira caminhada Negra, em 2020, pela Apamagis. Ideia que foi depois ampliada e levada para outras capitais pela AMB.
“A Caminhada Negra, evento que tem se consolidado no calendário da AMB, permite conhecer nossas cidades sob um outro ponto de vista. É uma mistura de história, cultura e diálogo, que levam a uma reflexão sobre nossos caminhos, passado e futuro, e sobre nosso papel na construção da sociedade que queremos”, disse Vanessa Mateus.
A praça da Liberdade Japão-África foi o ponto de partida da caminhada. No trajeto, o grupo parou diante do Fórum João Mendes Júnior, que foi cadeia pública. Ao lado do prédio, havia o pelourinho, onde as pessoas eram açoitadas. “Era um caminho de dor”, disse o guia Guilherme Soares Dias.
No final, uma parada na casa Preta Hub, onde a cultura negra se revela em livros e exposições, e onde se mostra o empreendedorismo de pessoas negras.
“A Caminhada Negra é impressionante, porque ainda que a gente já tenha participado uma vez, duas ou três, sempre tem algo novo, uma informação a mais. Desta vez, foi possível entrar na Capela dos Aflitos [em reforma]. É sempre muito rica, interessante e acho que deve ser mais divulgada ainda entre os colegas e familiares”, disse a juíza Lívia Antunes Caetano, que representa a Apamagis na Diretoria de Igualdade Racial da AMB.
Em Porto Alegre, os juízes caminharam do Mercado Público até a Rua dos Andradas, conhecida como Rua da Praia. No caminho, passaram pelo Museu do Percurso do Negro e foram narradas histórias negras da capital gaúcha, destacando o impacto dos movimentos e clubes negros, além da Revolução Farroupilha. Importante destacar que essa área do centro histórico foi alagada durante as enchentes do começo deste ano.
Evento consolidado
O diretor de Igualdade Racial da AMB destacou a grande participação nesta edição da Caminhada Negra. No dia 20, cinquenta pessoas fizeram a caminhada em Salvador, onde também ocorreu o 7º Enajun (Encontro Nacional de Juízas e Juízes Negros). “Essa participação expressiva reafirma a consolidação do evento no calendário nacional da AMB”, disse o juiz Marco Adriano da Fonseca.
“Aguardamos os colegas associadas e associados, independentemente da etnia a qual se identifiquem, para prestigiarem o evento, pois a iniciativa é uma experiência inovadora e transformadora, apresentando as cidades a partir de um novo olhar e uma nova perspectiva, com ênfase na positividade e nas potencialidades que essa população conferiu ao nosso país. Será uma oportunidade para valorizarmos o legado histórico, cultural e intelectual do Brasil, num exercício de sensibilização e conscientização no mês em que se celebra a Consciência Negra”, afirmou.
Confira os roteiros da Caminhada deste sábado:
BELÉM - 30/11/2024
Caminhada às 9h, com saída da Praça da República e término no Mercado Ver-o-Peso. O tour abordará a revolta da Cabanagem e o legado da presença africana e dos povos originários.
BELO HORIZONTE - 30/11/2024
Caminhada às 9h, com partida do Coreto da Praça da Liberdade e término no Mercado Novo. O roteiro destaca a cultura negra e as batalhas de rima no Viaduto de Santa Tereza, finalizando com a típica comida mineira no Mercado Novo.
BRASÍLIA - 30/11/2024
Trajeto de van às 9h30, com partida da Praça Zumbi dos Palmares (em frente ao Conic) e destino ao Restaurante Sunugal, na Asa Norte. Serão visitados locais como o Museu Vivo da Memória Candanga e a Praça dos Orixás.
CURITIBA - 30/11/2024
Caminhada às 9h30, com ponto de encontro nas Ruínas de São Francisco (ao lado do Museu Paranaense) e destino à Praça 19 de Dezembro. A aula de campo explorará 21 pontos de presença negra no centro histórico.
FORTALEZA - 30/11/2024
Caminhada às 9h30, com partida da Ponte dos Ingleses até a Praia de Iracema. O roteiro inclui locais significativos da história negra, como a estátua do jangadeiro Dragão do Mar.
MACAPÁ - 30/11/2024
Caminhada às 9h, com partida do Mercado Central de Macapá e chegada à União dos Negros do Macapá. O roteiro destaca pontos de presença negra na cidade, como a Fortaleza de São José e a Casa do Artesão.
RIO DE JANEIRO - 30/11/2024
Caminhada com ponto de encontro na Praça Mauá, às 9h30, e encerramento no Cais do Valongo. O tour percorre a “Pequena África”, uma parte significativa da zona portuária do Rio de Janeiro, reconhecida como Patrimônio Mundial da Humanidade.
Henrique Bolgue (Ascom/AMB)