Obra autobiográfica revela infância marcada por solidão e ambiguidades da autora

O Clube de Leitura da AMB realizou mais um encontro para discutir O Diabo, da escritora russa Marina Tsvetáieva, uma prosa autobiográfica que remonta às lembranças da autora na infância. O livro mergulha nas angústias, ambiguidades e percepções sensoriais de uma menina "esquisita, mas que existia", como define a própria narradora.

A palestra foi conduzida por Elena Vássina, professora de literatura russa da USP, que já participou de outros encontros do clube. Ela revelou nuances da obra e da vida da autora, ressaltando a importância de compreender a escrita de Tsvetáieva como expressão profunda de sua interioridade e de sua época.

“Ouvir nos poemas e na prosaística, eu, pelo menos eu sempre ouço a solidão. Porque, ao meu ver, o tema principal deste livro é o tema da solidão da criança”, afirmou a professora.

Vássina destacou também a dualidade presente em O Diabo, que aparece de forma simbólica na relação com as teclas do piano: “Esse branco, preto, Diabo, Deus. Uma imagem, uma metáfora muito importante para percepção do mundo da Marina”.

A professora explicou que, para Tsvetáieva, essas figuras opostas coexistem.

“Atmosfera familiar, Deus era frio, o diabo quente e nenhum deles era bom e ninguém mal, apenas um deles eu amava e conhecia, já o outro não. Um deles me era imposto com vistas à igreja... já o outro existia por conta própria e ninguém sabia. Essa é a Liberdade”, destacou.

Segundo a professora, Marina estreou na literatura em 1910, aos 18 anos, com uma coletânea de poemas que chamou a atenção. Mas a vida da autora seguiu um curso trágico.

“É uma vida muito trágica da Marina. Uma história trágica do meu país. Nesta obra, essa prosa autobiográfica, ela ainda não desceu às profundezas do inferno, ainda tem muito para descer. Mas ela já está assim, bem no fundo, no fundo de um abismo.”

O encontro foi novamente mediado pelo desembargador Franco Cocuzza (TJSP), que deixou claro seu entusiasmo com a palestra.

“Vou reler de novo o livro, porque agora, com essa visão da vida da autora, parece assim fantástico, né? A última frase, ‘De ti, que é maligno a sociedade não abusou’. E dela, todo mundo abusou desde o início. Foi uma vida muito turbulenta”, destacou.

A juíza Daniela Almeida Prado Ninno (TJSP) também elogiou a palestra, que considerou uma verdadeira “aula de história russa”. Para ela, a obra revelou as marcas da violência psicológica sofrida por Marina, mesmo tendo vindo de uma família com recursos.

Próxima obra

A próxima obra a ser discutida será Dias de abandono, da italiana Elena Ferrante, um romance intenso que narra o colapso emocional de Olga, uma mulher que, após ser abruptamente deixada pelo marido, mergulha em uma espiral de dor, fúria e desorientação.

Ambientado em Nápoles, o livro expõe os sentimentos de abandono, perda de identidade e reconstrução que acompanham uma separação inesperada. Com uma linguagem direta e poderosa, Ferrante conduz o leitor pela mente de sua protagonista, explorando a fragilidade e a força feminina.

A obra será discutida pela escritora e crítica literária, Fabiane Secches.

SERVIÇO

Clube de Leitura - “Dias de abandono”, de Elena Ferrante
Quando: 28/04
Horário: 19 horas
Inscrições: [email protected]
Formato: on-line via plataforma Zoom

Gostou? Então compartilhe!