Clube de Leitura da AMB encerra o ano com discussão sobre “O Visconde Partido ao Meio”, de Ítalo Calvino

Livro escrito em 1952 trata das ambiguidades humanas e foi debatido pela professora Cecília Casini
Na última reunião de 2024, o Clube de Leitura da AMB debateu a obra “O Visconde Partido ao Meio”, de Ítalo Calvino.
O encontro contou com a participação da professora Cecília Casini, especialista em literatura italiana e docente da USP, que apresentou o contexto histórico da obra.
Durante sua exposição, Casini destacou a relevância de Calvino para a literatura moderna. “É um dos autores mais conhecidos da Itália moderna. Ele teve antologias publicadas muito cedo, transita entre gêneros com muita facilidade”, comentou.
Publicado em 1952, “O Visconde Partido ao Meio” faz parte da trilogia "Nossos Antepassados" e é ambientado no século XVII, durante a guerra entre a Monarquia de Habsburgo, na Áustria, e o Império Otomano, na Turquia.
A obra conta a história de Medardo, um visconde que, ferido no campo de batalha, é dividido ao meio por uma bala de canhão. A partir disso, as duas metades passam a conviver separadas, uma representando o bem e outra o mal.
“De uma certa maneira, o livro mostra como é difícil dividir o bem e o mal. A história se passa em um período de sono da razão, digamos, por conta da guerra. O objetivo de Calvino é sempre voltar à lucidez originária do ser humano”, destaca.
Na discussão, o Diretor-Geral de Cultura da AMB, Kéops Vasconcelos, destacou a conexão da obra com dilemas atuais.
“Li esse livro pela primeira vez há 30 anos. Agora, ouvindo as explicações da professora, acho uma obra bastante oportuna pelo momento que nós estamos vivenciando, não apenas no Brasil, mas no mundo. Essa dualidade, esse maniqueísmo que está sobressaindo na sociedade de uma maneira geral. O livro traz essa reflexão, sobre até que ponto nós somos totalmente bons ou totalmente maus”, disse.
O juiz Franco Cocuzza comentou sobre a interpretação do julgamento moral presente no livro. “Eu não conhecia nada do Ítalo Calvino. Foi a primeira obra que li e adorei. Estamos em um grupo de magistrados e a obra aborda a questão do julgamento de uma maneira muito interessante”, afirmou.
Conforme a professora, o autor italiano desafia a leitura maniqueísta. “Ele não é um moralista. É preciso saber julgar as duas partes como um conjunto. Ser bom a todo custo se torna uma coisa moralista, algo que Calvino não aprecia e chama a atenção”.
A próxima obra a ser discutida no Clube será “Submissão”, de Michel Houellebecq.
SERVIÇO
Clube de Leitura - Submissão, de Michel Houellebecq.
Quando: 29/01
Horário: 19 horas
Inscrições: [email protected]
Formato: on-line via plataforma Zoom