Clube de Leitura da AMB discute A Hora dos Ruminantes, de José J. Veiga

Obra do escritor goiano traz uma trama de mistério passada em uma cidade fictícia no interior do Brasil
No último encontro do Clube de Leitura da AMB, a obra A Hora dos Ruminantes, do escritor goiano José J. Veiga, foi debatida sob a condução da professora Tarsilla Couto de Brito, doutora e professora de teoria literária na Universidade Federal de Goiás (UFG). A análise trouxe uma visão profunda sobre este romance enigmático da literatura brasileira em uma discussão acompanhada com atenção pelos magistrados.
A história se passa em Manarairema, uma cidade invadida por homens misteriosos, que se instalam do outro lado do rio e começam a ordenar os habitantes sem se identificar ou revelar intenções. A obra mistura realismo mágico, absurdo e elementos insólitos, criando um clima de mistério e angústia.
Tarsilla destacou a habilidade de Veiga em manter o mistério, nesta narrativa vista pelos moradores da cidade, desconfiados dos forasteiros. “O narrador nos prende do lado de cá do rio, junto com os habitantes. Em nenhum momento, o narrador é onisciente. Então, olha que esperteza a do José J. Veiga, vou construir um narrador para contar essa história do lado de cá, do rio, junto com os habitantes originais daquela cidade”, explicou.
A professora comparou a estrutura narrativa com a obra do pintor René Magritte, onde elementos fora do quadro sugerem uma realidade não revelada. “O Veiga produz estranhamento e sustenta estranhamento, que é muito difícil de fazer em romance. É mais fácil você manter mistério, estranhamento, angústia em contos. É mais difícil manter mistério e estranhamento em romance, porque é um gênero mais estendido”, afirmou.
O livro, escrito em 1966, também foi discutido sob o olhar de sua atualidade. Para a professora Tarsilla de Brito, a obra pode ser lida como uma alegoria da ditadura, mas está aberta para uma reflexão sobre um poder opressivo e invisível indefinido: “Nós estamos diante do fantástico, por causa dessa possibilidade de interpretar a obra sem muita certeza”.
Durante a discussão mediada pela Juíza Lívia Freitas (TJAP), os magistrados concordaram que A Hora dos Ruminantes desafia o leitor a refletir sobre o poder e a natureza humana. A Juíza Daniela Almeida Prado Ninno (TJSP) observou que o romance é predominantemente masculino, com poucas personagens femininas ativas. Na discussão, o juiz Franco Cocuzza (TJSP) compartilhou suas impressões sobre elementos intrigantes, como a invasão dos cães e bois, parte importante do cenário narrado por Veiga.
Próximo encontro
O Clube de Leitura da AMB segue com seus debates sobre obras que incentivam a reflexão e o diálogo. O próximo encontro vai discutir a obra A Vegetariana, de Han Kang, ganhadora do Nobel em 2024.
A obra tem sido apontada como um dos livros mais importantes da ficção contemporânea. Uma história sobre rebelião, tabu, violência e erotismo escrita com a clareza atordoante das melhores e mais aterradoras fábulas.
SERVIÇO
Clube de Leitura - A Vegetariana, de Han Kang
Quando: 26/03
Horário: 19 horas
Inscrições: [email protected]
Formato: on-line via plataforma Zoom