Clube de Leitura: Amós Oz retrata solidão da vida em um kibutz em “Entre Amigos”
Magistrados destacaram o talento literário do autor no retrato da rotina melancólica em uma comunidade utópica israelense
Na última reunião do Clube de Leitura da AMB, o livro Entre Amigos, do autor israelense Amós Oz, foi o tema central da discussão. A tradutora e poeta Vivian Schlesinger fez uma apresentação aprofundada sobre a obra e sobre o contexto histórico destacando as complexas dinâmicas sociais de Israel.
“Entre Amigos” tem como cenário um kibutz nas décadas de 1950 e 1960. De acordo com Vivian, essas comunidades eram um experimento social utópico concebido logo no começo do estado de Israel, profundamente enraizado no idealismo socialista.
O livro expõe as tensões entre a busca por uma vida coletiva e as necessidades individuais nesse ambiente. Por meio de histórias que abordam conflitos internos e externos, Oz constrói um retrato íntimo e, ao mesmo tempo, universal da experiência humana.
Um dos destaques do encontro foram as discussões sobre a estrutura narrativa da obra: composto de vários contos com personagens que circulam em um mesmo cenário.
“É um desafio à leitura, com traços de romance e conto. Apesar de ter um número de personagens limitado, remetendo a contos, a atmosfera é a mesma, uma característica do romance. Além disso, os personagens têm em comum a solidão e uma certa melancolia”, explica.
Nascido em 1939, antes da fundação do Estado de Israel, Amós Oz vem de uma família de imigrantes cultos. Com 14 anos, mudou-se para o kibutz Hulda onde viveu de perto os desafios da tentativa de construir uma sociedade igualitária. Morreu em 2018 em Tel Aviv.
Em sua vida, Oz escreveu 35 livros e cerca de 480 ensaios, consolidando-se como um dos maiores autores israelenses. A professora destacou que o autor sempre manteve sua atividade política separada de sua literatura, o que permitiu que sua o
Henrique Bolgue (Ascom/AMB) bra se desenvolvesse livre de qualquer linha ideológica explícita. “A literatura dele está inseparável de um panorama político, mas não defende uma determinada linha, não são panfletos. Com isso ele realmente cresceu na literatura", destacou.
Os magistrados Franco Cocuzza e Jorge Frias elogiaram a palestra de Vivian. “Somos privilegiados por ter uma palestra tão bem feita, não só pelo momento em que estamos vivendo, mas pela profundidade com que a obra foi apresentada”, disse Cocuzza.
O assessor cultural da AMB, Antonio Clementin também participou do encontro. Para ele, a tristeza subjacente nas histórias refletiu a solidão de cada personagem. “É um livro muito curioso e mostra o talento literário do autor em descrever essa natureza humana nesta comunidade, uma realidade em que os talentos são aprisionados”, afirmou.
Assista ao último encontro na íntegra:
Henrique Bolgue (Ascom/AMB)